Existe quase que um consenso entre gestores que a liderança não é algo nato, que qualquer um pode ser líder. Desde que devidamente aperfeiçoado. Eu discordo em parte disso.

            As descobertas da neurociência sobre o comportamento humano e a origem genética desse comportamento, mostram claramente que o homem traz habilidades e capacidades determinadas geneticamente. Dessa forma, algumas pessoas podem ter capacidades cognitivas mais adequadas para o exercício da liderança. Outras, por mais que se esforcem, não conseguem ser líderes eficazes.

            Com relação ao desenvolvimento de líderes – ou a descoberta de possíveis líderes – deveríamos fazer como se faz hoje no esporte de alto nível. No esporte não se perde tempo tentando desenvolver quaisquer indivíduos em atletas de alto nível. Procura-se descobrir quais indivíduos têm condições para serem desenvolvidos ao máximo. Isso porque, sabe-se, qualquer pessoa pode ser um atleta, se treinar e for obstinado o suficiente. Mas somente aqueles que são privilegiados pela genética serão os melhores.

            Entretanto, multiplicam-se modismos de eficácia questionável, como os cursos de “desenvolvimento de lideranças”.  Nesses cursos tem-se a falsa impressão de que se conseguirá transformar um gerente mediano em um verdadeiro Abílio Diniz.

Acreditar que podemos transformar qualquer funcionário em um líder de alto desempenho é acreditar que podemos transformar qualquer garoto que joga pelada na rua em um Pelé ou um Garrincha.

            É claro que qualquer pessoa pode desenvolver sua capacidade de liderança. Mas, francamente, somente uns poucos têm condições para serem os melhores. E esses, muitas vezes, conseguem se desenvolver sem muito esforço ou ajuda de cursos.

            Para conseguir líderes de alto desempenho nas empresas, não é a solução promover treinamentos genéricos que são bons para os bolsos das consultorias. O melhor é criar um sistema que detecte quem tem alto potencial e focar fortemente no desenvolvimento deles.

            Para isso, é necessário ter claro quais são as pré-condições para o desenvolvimento da liderança nos indivíduos. Falo isso em termos de inteligência, energia e caráter. A inteligência permite o raciocínio, o aprendizado, a capacidade analítica, a sagacidade. A energia permite o trabalho constante, o esforço, a determinação. O caráter impede que o líder destrua a si próprio, aos outros e a organização.

As pessoas responsáveis por programas de desenvolvimento de líderes, portanto, precisam ser realistas, fugirem da sabedoria convencional. E, ao mesmo tempo, têm que ter sensibilidade para identificar pessoas com alto potencial, não se prenderem apenas aos testes de personalidade, ou outros instrumentos quaisquer. Afinal, as pessoas sempre nos surpreendem, e uma capacidade de liderança genuína pode surgir em quem você menos espera, simplesmente porque você foi míope e não conseguiu enxergar.

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